segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Champagne Brasileiro: Cave Geisse

É com muita honra que compartilho com vocês a reportagem veiculada no Valor Econômico sobre o Champagne (sim, isto mesmo) Cave Geisse.

"No Chile não há uma paisagem vinícola como esta", comenta Mario Geisse ao olhar para o vale diante de si, no deque de sua casa em Pinto Bandeira, no Rio Grande do Sul. A observação é desprovida de ufanismo.

Parreiral
Vinhedos Cave Geisse
Mario nasceu no Chile e vive entre os dois países, embora considere que seu trabalho mais significativo
tenha sido feito aqui, onde há mais de 30 anos fundou a Vinícola Geisse. Recentemente sua busca por
ampliar fronteiras o levou a produzir um champanhe premier cru - feito a quatro mãos com Phillipe Dumont,
em Chigny -les- Roses, na França. É uma edição limitada de só 1,5 mil garrafas. Chega ao mercado nos
próximos dias, a R$ 260.
"Foi mais um capricho, uma curtição, um intercâmbio de opiniões no mundo das borbulhas. Não deve ser
olhado como negócio", diz ele, com seu portunhol lapidado ao longo do tempo. No ano que vem, quem sabe, a produção será um pouco maior. Não muito. Para Mario, os quatro anos de trabalho foram uma espécie de terapia e uma oportunidade para que ele conhecesse de perto uma família com raízes francesas, que está há 300 anos no negócio. Exatamente o que quer para a sua: a sobrevivência ao longo das gerações.

Engenheiro agrônomo especializado em enologia, Mario Geisse chegou ao Rio Grande do Sul, em 197 6, para dirigir a Chandon Brasil, em Garibaldi. Iria ficar só dois anos. "Mas me enamorei da região, que acho
extraordinariamente bela", argumenta, para justificar a compra de terras, logo em 1 978, onde se impôs o
desafio de ser o "melhor produtor de uvas da região", ainda sem pensar na vinícola. A empresa viria logo
depois, primeiro como uma produção pessoal e depois como negócio.
Com um pedaço de solo nas mãos, que acaba de arrancar de uma encosta no fundo da casa, Mario mostra a particularidade do terreno - uma terra cortada em fatias, cheia de fissuras. "Veja o grau de temporalização
deste basalto. Olha como a rocha está degradada: dá pra quebrar com as mãos. Isto é o que dá personalidade ao espumante." A explicação deixa entrever que ele se considera mais viticultor do que enólogo. "Não sou melhor, sou diferente. Não faço blend da Serra Gaúcha, mas blend do terroir", completa, sem modéstia.
Não ter paradigmas definidos e buscar novas fronteiras para produtos especiais é parte de sua filosofia de
trabalho. Por isso, comprou esses 76 hectares de área agrícola, dos quais apenas 22 são ocupados pelos
vinhedos da Cave Geisse. Ali, 60% são uvas chardonnay e 40 % pinot noir, plantadas em espaldeira. Em
outubro a vinícola fará seu primeiro blanc des blancs: um 100% chardonnay . E também o primeiro blanc des noirs, 100% pinot. Eles custarão R$ 80 a garrafa. Até o final de 2012, entre todos os rótulos, a empresa atingirá a marca de 190 mil garrafas ao ano, mantendo ainda uma demanda reprimida.
Mário Geisse
Mario Geisse
Pinto Bandeira fica a 750 metros de altitude e é conhecida como a região de montanhas de Bento Gonçalves. Mas, na avaliação do agrônomo, toda a região tem a particularidade de permitir colher uvas maduras com alto teor de acidez e baixo de açúcar, o que é ideal para a produção de espumantes. Tanto que ele acha que as terras próximas ao V ale dos Vinhedos deveriam ser aproveitadas majoritariamente para produzir espumantes, e não vinhos. "Quando falamos de espumante brasileiro, falamos de algo autêntico. Acho que em vez de se queixar da crise, os produtores deveriam obter financiamento para reconverter os vinhedos."

No início deste ano, quando um grupo de produtores gaúchos pediu ao Ministério do Desenvolvimento
salvaguarda para o vinho nacional, Mario se posicionou contra. E ficou profundamente ofendido quando
disseram que sua atitude advinha do fato de ser chileno. "Tenho filhos e netos brasileiros. Aqui está minha
obra. É onde me sinto mais realizado por achar que contribui para o engrandecimento da cultura vinícola.
No mundo globalizado você tem que ser competitivo internacionalmente. Só quem tem medo da
concorrência precisa de salvaguardas."
No ano passado, o Cave Geisse Terroir 1998 foi o único espumante escolhido pela britânica Jancis Robinson para ser apresentado no evento Wine Future, que aconteceu em Hong Kong. Os elogios da crítica soaram como um reconhecimento para Mario e os três filhos que trabalham com ele - Daniel, Rodrigo e Ignácio. Um dos orgulhos da família é manter há seis anos vinhedos ecologicamente sustentáveis, sem pesticidas.Foram eles que trouxeram para o país a tecnologia TPC (Thermal Pest Control), desenvolvida por um chileno, na qual máquinas movidas a gás lançam jatos de ar quente nas plantações para combater pragas. O investimento de R$ 6 milhões para aperfeiçoar a tecnologia e fabricar equipamentos aqui só foi possível com a parceria da Supergasbrás. "Quero preservar a terra para produzir daqui a 200 anos", declara Mario, que, ao se deparar com a tecnologia, ligou para seu filho Daniel dizendo: "Olha, descobri um cara mais louco do que eu. Mas há uma lógica incrível em tudo o que ele diz".

Hoje, a Família Geisse - nome pelo qual a empresa fundada como Cave de Amadeu foi rebatizada - tem
também propriedades no Chile e na Argentina. Nesses países produz a marca El Sueno. No Chile são 10
hectares com carmenère e cabernet sauvignon. Na Argentina há apenas dois hectares, que resultam em 6 mil garrafas de malbec ao ano. "Nosso capital são os vinhedos, a vinícola é um investimento industrial que
qualquer um faz", gosta de repetir Mario.

A os 66 anos, ele se diz "fruto e vítima de sua experiência". Cultiva um lado sentimental, fala do vinho como
um negócio que permite desfrutar a v ida, a natureza e fazer amigos. 

Que seu produto busca a excelência, não há como negar. Pelo menos é o que acha a elite de economistas cariocas que compareceu a um casamento no final de agosto, na Locanda della Mimosa, na Serra Fluminense. Do começo ao fim só deu Cave Geisse brut.



Esta semana teremos mais artigos que demonstram que o Brasil está fazendo bonito demais lá fora.

Beijos,

Daniele

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